LIVRO DE FOTOGRAFIA E TEXTOS EM PRODUÇÃO COLABORATIVA
FOTOS COMENTADAS - MUNIC. ITAMARANDIBA
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As fotos que compõem este livro, resultam do projeto " estética interiorana - V " realizado em 2008, pelo Instituto Aviva, com patrocínio da Empresa ArcelorMittal, através da Lei Federal de Incentivo à Cultura.
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Elias Rodrigues de Oliveira Sol-de-estalar-mamona, de secar todo o feijão em um dia só. É só guardar o de-comer na tulha e ter três gatos pra correr os ratos. A chuva chega nestas notícias do rádio, que as veis pega e as veis faia. O que o sertão quer é ser chovido, sol é coisa de praia. ero
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Elias Rodrigues de Oliveira Tilim parecia assustado hoje. Arrepiado. Não tomou café se encostando na porta, nem descansou o pé direito sobre o outro -seu costume. Também não soprou a fumaça do café moca. Bebia o calor espremido nos lábios diminuídos em rugas apertadas. Era susto não. Era raiva, ciúme ajuntado.
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Maria Aparecida Furtunata Com meus olhos lavados pelas lágrimas, vejo mais claro. As dores obscurem. Chorando, elas se desmancham. As cores ficam mais nítidas. Quem não chora pode enxergar mais cinzento. Prefiro a capacidade de chorar. Prefiro o risco de sofrer a passar pelas coisas sem emoção. Na alegria ou na tristeza, as lágrimas são gotas da alma... E como trago em mim uma fonte de águas vivas, não tem importância chorar, arrepiar... ter ciúmes... Enfim, minha alma é límpida, borbulhante e vívida, ela pode transbordar!
Maria Aparecida Furtunata Com meus olhos lavados pelas lágrimas, vejo mais claro. As dores obscurem. Chorando, elas se desmancham. As cores ficam mais nítidas. Quem não chora pode enxergar mais cinzento. Prefiro a capacidade de chorar. Prefiro o risco de sofrer a passar pelas coisas sem emoção. Na alegria ou na tristeza, as lágrimas são gotas da alma... E como trago em mim uma fonte de águas vivas, não tem importância chorar, arrepiar... ter ciúmes... Enfim, minha alma é límpida, borbulhante e vívida, ela pode transbordar!
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Mandruvachá Entre Folhas
Servido o almoço chamaram a companheirada: - Tá pronto, pó –vim armuçar!!! Tião vaqueiro varado de fome não esperou chamar duas vezes e foi inté bambo, cego... De posse dum baita caldeirão forrado de feijão inté pelano de quente queimando a sola da parma da mão o macho caminhou firme e ligeiro em dereção ao terreiro, de tão afoito que tava nem viu garfo e cuié bem ao lado, pendurados no garfeiro. |
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Aucione Rodrigues (...)Manhãzinha, lá pelos lados do corguinho, tabuleiro na cabeça, cantarolando, vai a jovenzinha.
- Passava inhantes no fogão pra recolher as cinzas, esta sim era pra ariar os talheres, os garfos para ela eram utensílios afeminados(dizia ela, garfo sem faca é o mesmo que relógio sem ponteiro).
No vai e vem do caminho, cantarolando seguia.
Diante de um prato de sopa
Lá estou a recolher
Levando até sua boca
O alimento pra comer
Garfo e colher
Marido e mulher
No prato de sopa quente
Sou eu que levo a pior
Aucione Rodrigues (...)Manhãzinha, lá pelos lados do corguinho, tabuleiro na cabeça, cantarolando, vai a jovenzinha.
- Passava inhantes no fogão pra recolher as cinzas, esta sim era pra ariar os talheres, os garfos para ela eram utensílios afeminados(dizia ela, garfo sem faca é o mesmo que relógio sem ponteiro).
No vai e vem do caminho, cantarolando seguia.
Diante de um prato de sopa
Lá estou a recolher
Levando até sua boca
O alimento pra comer
Garfo e colher
Marido e mulher
No prato de sopa quente
Sou eu que levo a pior
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Elias Rodrigues de Oliveira Pode um fechar os olhos? Fazer breu da pouca luz restante, se desfazer dos parentes possuídos e sair correndo mundo, vagueando de-por-si? E é não! Isso nunca haverá de ser sido. Eu congrego o que sou. Ao que podendo, posso. Eu fico.
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Ahias Moreira de Oliveira
Separou o feijão massagado na passagem da boiada. Encarou os boiadeiros, riscando facão no chão, saracoteando feito pipoca reclamando do estrago. Compadre Ciríaco observava. O dono da boiada, falou, sisudo e firme: “tá querendo alguma coisa?” Quando viu a carabina na cabeça do arreio gelou. “Quem, eu? Quero nada não ué! Cê qué alguma coisa cumpade Ciriáco?” Guardou o que restou de bagos na peneira e foi embora. |
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Wagner M. Martins
“o interior também era de uma uniformidade extremamente resumida: piso de chão batido, “encerado” com bosta de boi diluída em água, paredes caiadas de barro branco e o fogão de lenha na vigília intermitente da porta da cozinha, como um duende, a bocarra voltada pro cômodo da sala.” |
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Wagner M. Martins Era banquinho para assento, objeto para se subir, improviso de mesa... era móvel quase único da casa. Sua tosca aparência, seu existir de múltipla serventia, não afastava a ternura representada naquele arranjo simplório que sustentava em suas horas de folgança.
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Elias Rodrigues de Oliveira
O moinho nos vales, encoberto sofre granizos velozes ruído fluido lodoso e gélido mó em murmúrio perene pó em correnteza maís aí, tritura seus ais ... em mim, os tritura por demais! |
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Aucione Rodrigues Roda de moinho,mói o fubá,de milho fresquinho um anguzinho vai dar.Na panela o franguinho já bem cozidinho,o quiabinho refogado sem baba servido no jantar.Gente chegando à mesa se assentando,numa boa conversa vão se juntando. Comida boa Da. Sinhá aqui nas redondezas é o que há.Sinhá aveche não mas vou servir mais um pouquinho,este quiabinho tá gostoso que tá.
Na moeda do moinho tinha um caroço de milho, agarradinho! não deixava a pedra rodar, por mais que seu Zé tentasse o danado lá estava bem preso no buraquinho, todo amassadinho! mas firme. Seu Zé retirou a pedra com cuidado, devido o seu peso pesado, ai quem disse que o danadinho do milho quis sair, precisou perfurar a pedra, repicar a coitada, ai sim o teimoso pulou fora de lá. O moinho começou a girar, fubá fininho, dizia seu Zé. Uma quarta de cada moída,(uma quarta é igual a sete litros de milho),(medidos em um caixote de madeira em forma de quadrado).Colaca-se dentro de uma muega(recipiente feito de madeira em forma de funil)Iniciou a separação:farelo pros porcos, fubá grosso pros cães, e o miolo (oi do fubá),(fubá fininho)este sim vai dar angú do bom, Leva mué faiz pra nóis, pega lá um franguinho, põe na panela, enquantisso, vou buscar uns oraprunobis, mas inhantes vou tomar minha branquina que é pra comemorá, aquele danado do caroço de milho me deu uma suadeira danada.
Quando criança adorava tomar banho na água que passava pela roda do moínho. parecia que era mais fresca devido o movimento que a roda fazia e espirrava água por todos os lados.
Aucione Rodrigues Roda de moinho,mói o fubá,de milho fresquinho um anguzinho vai dar.Na panela o franguinho já bem cozidinho,o quiabinho refogado sem baba servido no jantar.Gente chegando à mesa se assentando,numa boa conversa vão se juntando. Comida boa Da. Sinhá aqui nas redondezas é o que há.Sinhá aveche não mas vou servir mais um pouquinho,este quiabinho tá gostoso que tá.
Na moeda do moinho tinha um caroço de milho, agarradinho! não deixava a pedra rodar, por mais que seu Zé tentasse o danado lá estava bem preso no buraquinho, todo amassadinho! mas firme. Seu Zé retirou a pedra com cuidado, devido o seu peso pesado, ai quem disse que o danadinho do milho quis sair, precisou perfurar a pedra, repicar a coitada, ai sim o teimoso pulou fora de lá. O moinho começou a girar, fubá fininho, dizia seu Zé. Uma quarta de cada moída,(uma quarta é igual a sete litros de milho),(medidos em um caixote de madeira em forma de quadrado).Colaca-se dentro de uma muega(recipiente feito de madeira em forma de funil)Iniciou a separação:farelo pros porcos, fubá grosso pros cães, e o miolo (oi do fubá),(fubá fininho)este sim vai dar angú do bom, Leva mué faiz pra nóis, pega lá um franguinho, põe na panela, enquantisso, vou buscar uns oraprunobis, mas inhantes vou tomar minha branquina que é pra comemorá, aquele danado do caroço de milho me deu uma suadeira danada.
Quando criança adorava tomar banho na água que passava pela roda do moínho. parecia que era mais fresca devido o movimento que a roda fazia e espirrava água por todos os lados.
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Edmilson Lima Teodoro
Na roça a natureza sempre vem nos ensinar Quando ainda na madrugada os pássaros a cantar Mostrando pro sertanejo que é hora de acordar Levanto tomo café , como uma broa de fubá Pego minha ferramenta, saio pra trabalhar Ao longe a siriema, no alto do morro a gritar Parece querer dizer, que é hora de acordar Pois o dia amanhece,é preciso levantar Os amigos e visinhos já estão a me esperar Para podermos sair, começar a trabalhar Vejo no alto das árvores, os passaros a cantar Todos felizes anunciam que o sol já vai raiar Pulando de um galho a outro, sem jamais preocupar Pois sabem que o Criador,é que vai lhes sustentar Por isso estão felizes nos galhos a cantar Outro dia já se finda, vou pra casa descançar Depois de um dia inteiro, no campo a trabalhar Chego em casa a tardinha, vou meu banho tomar Sei que daqui a pouco, os vizinhos vão chegar Pra mais uma noite , podermos prosear Com histórias, causos que a vida nos dá Sentamos ao redor da mesa, não vemos o tempo passar Todos os dias são assim , aqui dentro do meu lar Convido todos os amigos, para um cafezinho tomar O que não falta na mesa é uma broa de fubá Assim eu sou feliz, vivendo neste lugar |
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Wagner M. Martins Formava par com Zezinho. Na rabeca não, na rabeca Zezinho era único num raio de muitas léguas. Levindo não tinha ânimo para as noitadas de pagode. Tinha na voz mansa e compassada, uma tonalidade aveludada que lhe dava uma parecença de apascentador de ovelhas. Não tinha vícios. Carregava naquele corpão a docilidade de uma criança. Os anos se foram e restava agora a solidez do compadrio as lembranças e os frutos das sementes que plantaram naquelas terras.
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Elias Rodrigues de Oliveira
A semente de mí é viva, moída é fruto feito fubá, alimento pra outra vida. |
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Wagner M. Martins E a pedra, depois de moldada no calo grotesco da mão de Ascânio, gira e gira, e no pingo constante do milho, grão por grão, medidos da moega, no controlar da trepidação, não tem ciência, apenas o saber dos antigos. Vai pro cocho, o fubá, arte final, do rústico sitiante. Mais grosso ou mais fino, médio, também pode ser, depende das cunhas da agulha, e da vontade do freguês. A broa cresce no forno!
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Wagner M. Martins Gira a pedra, em giros... no equilíbrio das cordas o milho treme ao atrito, na moega suspensa num plano vazio... e pinga e pinga... pacientemente... pinga... a metamorfose do fubá. Ao cair da noite, interrompa a agueira, pare-se a roda e descanse o moleiro, que a broa espera no prato. Bem ao gosto do café com leite!
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.........................................................................................................................................................................................................................................."MOINHO DE PEDRA.
Edmilson Lima Teodoro
Este moinho de pedra, eu vou lhes apresentar,
Toda essa engenhoca, eu vou por pra funcionar,
Mas primeiro a vocês , uma história vou contar,
Tudo isso começou , lá no fundo do Quintá.
Plantei uns caroços de milho, para ver o que ia dá,
Colhi várias espigas, e coloquei para secar,
Depois de tudo sequinho, levei lá pro moinho
Mandei fazer fubá.
Depois de tudo limpinho, coloquei o meu moinho
Pra girar bem de mansinho , com carinho a triturar,
Aqueles caroços de milho , em pequenos pedacinhos ,
Todos bem fininhos, que chamamos de fubá.
Agora que já conhecem, como funciona o moinho,
Convido os meus amigos, com todo o meu carinho,
Para comigo cear, tomar um café com leite,
Também, comer uma broa de fubá.
Enviado por Aucione Rodrigues
Edmilson Lima Teodoro
Este moinho de pedra, eu vou lhes apresentar,
Toda essa engenhoca, eu vou por pra funcionar,
Mas primeiro a vocês , uma história vou contar,
Tudo isso começou , lá no fundo do Quintá.
Plantei uns caroços de milho, para ver o que ia dá,
Colhi várias espigas, e coloquei para secar,
Depois de tudo sequinho, levei lá pro moinho
Mandei fazer fubá.
Depois de tudo limpinho, coloquei o meu moinho
Pra girar bem de mansinho , com carinho a triturar,
Aqueles caroços de milho , em pequenos pedacinhos ,
Todos bem fininhos, que chamamos de fubá.
Agora que já conhecem, como funciona o moinho,
Convido os meus amigos, com todo o meu carinho,
Para comigo cear, tomar um café com leite,
Também, comer uma broa de fubá.
Enviado por Aucione Rodrigues
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Mandruvachá Entre Folhas A certeza entranhada na tabua do coração de que a semente lançada naquela terra arada brotará no alvorecer do amanhã e dará frutos, é produto da fé cultivada ao longo dos anos, e guardada em depósito como pérolas nas muitas orações; Pois ele acredita que a chuva há de cair na terra da promissão no tempo certo! - O jeito firme, singelo e sereno no olhar aformoseia o rosto, e afirma: Mas houve mudanças sim, das estações do ano!!!
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.........................................................................................................................................................................................................................................Sr. Joãozinho ( Narraiva retirada do vídeo)
"São José fez o moinho, né? E o capeta achou muito interesante aquilo. Mas São José fez o moinho e teve a idéia de fazer o sambareco, né? Aí São José saiu pra almoçar, e o capeta tava lá de longe e pensou lá ele né: "-Ó, eu vou atrapalhar o serviço daquele velho todo! Vou atrapalhar tudo nessa hora!" Correu o mais depressa, passou a mão nas ferramentas do São José (São José era carpinteiro, fez o sambareco, fez a cruz né), quando ele levou, quando ele colocou lá pra atrapalhar o moinho de São José né, que ele colocou lá, que ele olhou, era uma cruz. E o capeta não gosta de cruz né? Ele falou: "-Cruz!" e largou pra lá. São José chegou, tá o moinho moendo tranquilo. São José foi e abençoou né, e ficou sendo. E o capeta virou um cisco no mundo."
"São José fez o moinho, né? E o capeta achou muito interesante aquilo. Mas São José fez o moinho e teve a idéia de fazer o sambareco, né? Aí São José saiu pra almoçar, e o capeta tava lá de longe e pensou lá ele né: "-Ó, eu vou atrapalhar o serviço daquele velho todo! Vou atrapalhar tudo nessa hora!" Correu o mais depressa, passou a mão nas ferramentas do São José (São José era carpinteiro, fez o sambareco, fez a cruz né), quando ele levou, quando ele colocou lá pra atrapalhar o moinho de São José né, que ele colocou lá, que ele olhou, era uma cruz. E o capeta não gosta de cruz né? Ele falou: "-Cruz!" e largou pra lá. São José chegou, tá o moinho moendo tranquilo. São José foi e abençoou né, e ficou sendo. E o capeta virou um cisco no mundo."
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Aucione Rodrigues
Na colheita, ando a procura Milho novo e granado Pro angú ficar gostoso Com sabor abençoado Levanto cedo, na madrugada O moínho verificar Fubá bem fresquinho Pro almoço e jantar A pedra vai rodando O milho amassando Transforma em pó fininho Outros grãos ficam enlodado Olho pensativo No que isto pode dar Depois de pronto todos veem À mesa se assentar Na cuia meço a quantia Deste alimento sagrado Na panela vira comida Todos bem alimentados |
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Aucione Rodrigues QUARTA: recipiente de madeira em forma de quadrado, serve para medir o fubá após a moagem.Também se mede o milho antes da moagem(uma quarta é igual a sete litros). Vai menina, meça logo este milho a muega está vizia, daqui há puco o moínho começa a bater pedra.
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Wagner M. Martins No embalar das sombras o balanço embaralha o sentir de meus olhos.
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Elias Rodrigues de Oliveira De cada roda-flor mil sementes vão nascer, ser o amarelo forte que olha no olho do sol. Que mande Deus copiosa chuva sobre este sapé, até fazer a semente cair, e ir, rolando pela enxurrada, penetrar o solo, fecundar a terra que vai fazer girar o sol.
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Edmilson Lima Teodoro (enviado por Aucione Rodrigues )
Saudades da minha terrinha Hoje levantei cedinho, e comecei a lembrar. Dos amigos de infância, que saudades me dá. Que partiram a muito tempo, e não quiseram mais voltar. Recordei as brincadeiras, que costumávamos brincar. Saudades daquele tempo, que jamais irá voltar. Lembro-me com tristeza, e me ponho a imaginar. Será que eles estão felizes morando em outro lugar. Espero algum dia , meus amigos encontrar. Para dizer que em nossa terrinha, ainda tem o seu lugar. Pois ainda guardo no peito, a vontade de encontrar, Meus amigos de infância, para podermos recordar. Das brincadeiras que fazíamos sem nunca nos preocupar. Não sei , se ainda lembram de mim. Mais uma coisa vou falar , sempre levarei comigo, Por onde quer que eu andar, num lugar bem guardado, Pra ninguém nunca tirar, essa amizade verdadeira, No coração vou guardar. |
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Adriane Ferreira Bicalho Goulart
Da Terra o fruto Do meu trabalho a colheita Dos céus as bênçãos do criador Que fez fértil a terra e vigoroso o meu labor... |
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Elias Rodrigues de Oliveira
Quando pedem, o pedir é um entregar-se de si, e neste escambo quem mais ganha é quem mais dá. |
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Wagner M. Martins Mariquinha tinha saúde de ferro e era companhia eficiente para agüentar o refluxo daqueles duros dias. Haveria que fluir riqueza condizente com o esforço e daí a compensação. Chegou arqueada no cilhão, montando a mulinha de pelo avermelhado, boa cela pra menino e mulher. “Defruçou”. Peito cheio, tosse seca, corpo debilitado; fruto da friagem das madrugadas indormidas nos pousos de beira estrada. Mas não se deixava alquebrar. Forte dosagem de chá de folha de laranja dava jeito na perrengueza. É juntar a lenha, aguardar a ceia e desenformar a broa de fubá....
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.........................................................................................................................................................................................................................................Mandruvachá Entre Folhas
O palco é de pau;
...pau que dá em chico dá em Francisco, mas não dá cavaco!
Graveto seco serve, atiça fogo dá fogaréu
Na boca do fogão dá labareda e espanta friagem!
Pico-tudo e guardo
Pode vir chuva na barra da tarde.
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Adriane Ferreira Bicalho Goulart
No torrão deste rincão
Levo os dias da vida
contando a história da minha lida.
O palco é de pau;
...pau que dá em chico dá em Francisco, mas não dá cavaco!
Graveto seco serve, atiça fogo dá fogaréu
Na boca do fogão dá labareda e espanta friagem!
Pico-tudo e guardo
Pode vir chuva na barra da tarde.
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Adriane Ferreira Bicalho Goulart
No torrão deste rincão
Levo os dias da vida
contando a história da minha lida.
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Elias Rodrigues de Oliveira Os peixes saltam, rodopiam por perto. O lençol flutua e quer brincar no rio abaixo, ir, ir ser mar... Todos fazem bolhas e borbulhas, as sinuosas borboletas confundem flores, água e ar. As frias e duras pedras se renderam ao arredondar das águas. Ajudam no lavar, no bater, no esfregar. As águas já levaram as pontas perigosas. Se fizeram suaves seixos, -o doce de leite que a lavadeira faz.
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Wagner M. Martins Jogou os alforjes no lombo da tropa e pegou caminho. Abriu trilhas, varou matas e banhados. Seguiu a rumo do sertão. Mundão de terras bravas! Terras de ninguém; descansadas, ricas e produtivas; dispensa adubação. Improvisa fogão, montado na trempe, faz café, cozinha o feijão, e pontua as coivaras (braseiro formado no que restou do tronco lacerado da árvore). Valia por ali, a precedência: “o direito das cinzas”, assim chamado. O primeiro que chega, marca lugar no fumegar da coivara; bandeira; fumegante por dias, resulta no amontoado de cinzas e está feito o apossamento. O desmonte da mata é questão de pouco tempo.
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Patricia Fonseca
naquele tempo em que cortava trecho pra caçar canto de sabiá
chá preto na chaleira, luarada até de madrugada
não se cansava de escutar os barulhos do mato
os ói estatelado esperando o dia clariá
na beirada do fogo, com o coração quente
e a alma tranquila que nem passarinho.
Patricia Fonseca
naquele tempo em que cortava trecho pra caçar canto de sabiá
chá preto na chaleira, luarada até de madrugada
não se cansava de escutar os barulhos do mato
os ói estatelado esperando o dia clariá
na beirada do fogo, com o coração quente
e a alma tranquila que nem passarinho.
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Joaquim Araujo Ramos Apêia e desarrêia a tropa; tempim de passar o café.
Ah... tráis o coxinilho mode se acomodá mió. |
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Aucione Rodrigues Aqui por estas bandas, baile era constante, sanfoneiro tinha folga não, bastava casar Tião, Joaquim, Maria e João. Pra sanfona chorar no terreiro.Os moços inham se achegano, divagarim.....juntim das moças...passava lencim branco.A pueira levantano, broinhas no fogão a lenha, tudo quentinho, servido ao café com leite. Uma fuguerinha acesa pra esquentar os cambitos tudo russo da puera. A dança cumeçava. O pai da moça ficava na expreita, só de rabo do olho, pra ver se o camarada era boa gente. Uma rodada de pinga, pros cabouclos. Em época de lua cheia, os causos de lobsomem. Nego ia saindo de mansim... de repente o baile terminava. Povo se espaiano, cada um pra suas casas, mas o namoro ali cumeçado, este sim, era o próximo encontro do sanfoneiro.
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Aucione Rodrigues
Estrada... idas, vindas; Como chegar (?) Em primeiro lugar. E, tudo findar! No baú da vida, guardo memórias Cartas de amor, daquela senhora O gosto do beijo, está no papel Segredos da alma, juízo final |
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Mandruvachá Entre Folhas Não estava amarrada pelo pé nem presa debaixo do balaio... Ao jogar do milho e o soar do pru-ti-ti-ti-ti-ti-ti o bando veio, quase um aviário, aí entrou o pulo da gata que num bote certeiro “travô” a canelinha da primeira penosa que arriscou aproximação na cata de milho. “Pegô.” e agora... só-pa-nela.
- A cena do sacrifício faz “taiar” o sangue!!! |
.........................................................................................................................................................................................................................................Aucione Rodrigues
Galinha choca no terreiro, serve pra nada;
Mió matá, garganta cortada, a penosa pia;
Fraco! Piau...pi...au...p.i.a.uu!
Esquartejada vai pra panela, vira sopa do jantar;
Junta a filharada; Espera o marido e nada, guarda pedaço, finda o dia.
Galinha choca no terreiro, serve pra nada;
Mió matá, garganta cortada, a penosa pia;
Fraco! Piau...pi...au...p.i.a.uu!
Esquartejada vai pra panela, vira sopa do jantar;
Junta a filharada; Espera o marido e nada, guarda pedaço, finda o dia.
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Aucione Rodrigues Milho na muega, fubazim pro angú.O que mais a gente pricisa muié.Só farta agora tu fazê aquela bruinha, ducinha! Que só tu sabe fazê.
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Wagner M. Martins De boa, cumpade, a bicha tava la, no mei dos cacho, enroladinha, enroladinha, cas presa preparada pro bote. Na arribada do susto, carcou a mordida mas eu sartei. Além do rasgo na butina só ficou o susto mesmo.
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Rosa Cassia Ser mineiro é ter a alma leve, simples e tranqüila… é ter o prazer de saborear uma típica comida mineira... não ia esquecer de falar do tradicional pão de queijo... dos belos animais e sou fã, amo os animais... é tão difícil falar de tantas coisas maravilhosas ao mesmo tempo... parabéns pelo belo trabalho.
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Aucione Rodrigues
Tropeiros antigamente Transportavam grandes fortunas Joias, temperos, rapadura Outros tantos em lonjuras Pela noite seguia seu rumo Embrenhando mata adentro Cangalha no lombo do burro Apertando o bicho no ventre Tropeiro em noite alta Arranchava pra descansar Comia carne de sol Sem ter sol pra iluminar No fim da aventura, uma surpresa Tudo de novo começar Enchendo logo os cargueiros De volta, estrada cavalgar Não tinha tempo pra família Que dirá pros gandes amigos Faziam serenata por ali mesmo Cantigas alegres pra animar |
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Mandruvachá Entre Folhas Dispois de ispremer o cardo da cana na muenda inté vazá a útima gota, nois pega e pãe o bagaço amuntuado pra secar na cacunda duma pedra quarquer longe da terra fria pramode num panhar úmidade.
- Dá... da sim, da pra apruveitar essa bagaçada toda, nois num pó -perder nada não, né? ...e isso pega fogo qué-uma-beleza, só-sinhô-veno! - Mais é bão isperar secar!!! |
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Wagner M. Martins Comia os restos da cana espalhados no entorno do engenho, enquanto Zé Francisco observava-lhe com os olhos entristecidos. Muitos anos lhe servira, e à fazenda. Companhia de dias e noites nas estradas e nos campos. “Agora, ficou velho. Aposentei-o. Vai ficar, enquanto viver, usufruindo de vida tranquila aqui na fazenda. Trabalhou muito”. Respondeu ao cigano que insistia em adquirir o animal.
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MEU CAVALO ALAZÃO
Edmilson Lima Teodoro,
Este é meu amigo, meu cavalo alazão
Todo dia bem cedinho me espera no portão
Pra mais um dia de trabalho, nesse imenso espigão
Me ajuda a ajuntar o gado, espalhado no sertão
Enquanto preparo o café, ele fica a esperar
Corto uns pedaços de cana , para ele degustar
Enquanto a água no fogo, eu espero esquentar
Pra coar o café e sairmos a labutar
Este cavalo Alazão, eu guardo no coração
Apesar das dificuldades, me ensinou de verdade
Como viver no sertão
Lutando de sol a sol, sempre com a mesma paixão
Este cavalo amigo, sempre comigo estará,
Mesmo que um dia eu mude, daqui pra outro lugar,
O levarei comigo, pra juntos descansarmos,
Pois muito me ensinou, vivendo neste lugar.
enviado p/Aucione Rodrigues
MEU CAVALO ALAZÃO
Edmilson Lima Teodoro,
Este é meu amigo, meu cavalo alazão
Todo dia bem cedinho me espera no portão
Pra mais um dia de trabalho, nesse imenso espigão
Me ajuda a ajuntar o gado, espalhado no sertão
Enquanto preparo o café, ele fica a esperar
Corto uns pedaços de cana , para ele degustar
Enquanto a água no fogo, eu espero esquentar
Pra coar o café e sairmos a labutar
Este cavalo Alazão, eu guardo no coração
Apesar das dificuldades, me ensinou de verdade
Como viver no sertão
Lutando de sol a sol, sempre com a mesma paixão
Este cavalo amigo, sempre comigo estará,
Mesmo que um dia eu mude, daqui pra outro lugar,
O levarei comigo, pra juntos descansarmos,
Pois muito me ensinou, vivendo neste lugar.
enviado p/Aucione Rodrigues
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Mamedes Cândido De Oliveira Engenho, engenho, engenho tão engenhoso que seu operador tem que ser malicioso, mas com tudo sempre muito bondoso, nunca se esquecer que o ponto certo da rapadura é muito melindroso, e pode te tornar muito famoso, se ficar bem gostoso...
( enviado por Aucione Rodrigues ) |
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Aucione Rodrigues
Puxa na cuia; Quentinha saia. Sorriso no rosto; Inebriando a vida. Talves um melado; Escorrendo na pá. Com suor se mistura; Docinho ficar. Fumaça do forno; Esquentando a alma. Semblante alegre; Saboreando se acalma. |
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Joaquim Araujo Ramos
Quando o melado ferve e começa a bolhar, gosto de Maria perto da tacha. É que nas tantas bolhas de escuma, avisto infinitos rostinhos dela. |
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Wagner M. Martins “O engenho é adocicado; o ar, o cheiro, espátulas, conchas, as abelhas que zumbizam, até os obreiros que o operam ficam com aparência adocicada”. Dizia. Enquanto isso o melado escorria doce e fumegante pelo cocho, desenhando um espetáculo de cores e tons, alimentando o ambiente de calor e doçura. “Daí-me um João Branco, que eu também sou filho de Deus!” Proclamou.
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Aucione Rodrigues
Puxa docinha, na panela está Leve e quentinha, adocicando o chá Lá vem sinhazinha, bem devagar De saia rodada, babados pra enfeitar Levando na saia, biscoitos de fubá Pra comer com café, que adoçado está Chega sinhôzinho, querendo cear Sinhazinha levanta, arrastando o pé Devagar lá se vai , a mesa servir Café com biscoitos, cuscus de fubá A noite termina, os pés vai lavar Pra cama ela vai, prontinha se deitar |
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Mandruvachá Entre Folhas A cana quiocê viu lá na virada foi cortada, os homi cortô; Foi cortada, limpa e carregada nus lombo dus animár pra baxo, pru ingenho - os burro carregô; Na muenda foi trurcida - aí deu garapa; No desdobramento do calor do fogo brabo a tachada deu melado; Um muncado da sobra deu inté jão-branco prus mininu apriciar... Mais nosso négocio era mesmo a rapadura - e deu tamém. - Tinha que dá né!? - Taí o doce da cana!!!!
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Amarísio Araújo
Há ciência no engenho,minha gente. O sólido que se faz líquido, Que se faz sólido novamente. O açúcar que se transforma, A planta que assume outra forma. Mas o que há mesmo é muito amor De homem simples, Engenheiro,sim senhor, Zeloso na sua lida De transformar a cana colhida Em tão preciosa comida. Repara bem,minha gente, Que é finita a medida Do que sai do tacho quente E se converte em rapadura. Imensurável mesmo é o amor, Canavial de ternura Desse homem simples, Engenheiro,sim senhor |
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Aucione Rodrigues
São duas da madrugada Fornalheiro chega contente Ativando a caldeira Iniciando a trabalheira As três moendas girando Com suas pontas dentadas Espreme logo a cepa Transformando-a em garapa A moenda vai girando Uma ao contrário das outras Assim seguem acopladas Num vai e vem arrochado Cacheador mexe o mel Ainda na fervura Usando três palhetas de pau Para dar a liga na puxa Pra gamela vai o caldo Quente a se espalhar Vira rapa e rapadura E pronto, servida está Chega o dono do engenho Aproxima do lugar Quer saber o resultado Dos trocados a embolsar |
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Mandruvachá Entre Folhas Palha dá artesanato em Itamarandiba,
e chapéu para o homem do campo do norte de Minas! Palha abraça a pamonha da milharia, vira peteca, e serve o doce à moda caipira. |
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Aucione Rodrigues As palhetas (colher de pau) penduradas no girau, mostra que o trabalho está encerrado por hoje. Amanhã bem cedinho inicia-se tudo de novo:
Moenda girando, fornalha acesa, garapa escorrendo na calha. -O moendeiro chega com mais um feixe (molho, braçada)de cana, as três pontas dentadas das moendas põem-se a girar, uma força motriz sem igual. -Enfim o melado vira rapa-dura, Sr João é o primeiro a experimentar o ponto, chama o moendeiro pra ajudá-lo, trabalho difícil, despejar o melado no cocho, (forma de madeira). |
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Mandruvachá Entre Folhas Pitador de rolão, de arromba- peito, gosta de fumo é forte. Fala que pita pra adormecer o dente, Olha procê vê... Mas eu já falei com ele, se tá doendo ranca logo essa porcariada da boca. Toda vez que vai na venda traiz uma “tora” de fumo que dá pra pitar mais de mês. Pó precurar - precura procevê quiocê vai achar uma “perninha” de fumo nu bursin da carça dele... ispia atraiz da oreia a paia pravê se eu to mintino!
...eu do conseio, eu falo, to cansado de falar com esse fédamanha pra laigar a mão disso, pirdi foi muntos amigo com essa disgrameira - morreu tudo novo com a tár duença ruin qui-né-bão nem falar o nome... Começa com garrotilho. ...abre o zói pru sinár. - Pai quando fala é prurquê quer o bem do fio - é mior ivitar qui curar!!! |
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Aucione Rodrigues
Numa vida de trabalho Seguem os dois na madrugada O fogo estala na fornalha A garapa a ferventar No tacho derrama o caldo Da abençoada cana expermida Rapadura, João branco e puxa Pro sustento de família A simplicidade da vestimenta Indica q` a labuta é séria Mas no rosto a alegria De um dia q`se encerra Vida dura, esta de roça Mas a recompensa, vale a pena No final da lida, eles teem O doce desejo de vida |
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Aucione Rodrigues Enquanto revira a terra, Da.Rosa pensa...este solo sagrado, há de devolver-me o suor do meu rosto.Faz suas orações pra que chova logo.
É desta gleba que extrai o sustento.Sob o sol escaldante, recomeça sua jornada, firme de que suas orações foram atendidas.O verde das plantas traz Da. Rosa de volta à vida. |
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Maria Luísa Castro Melo
"Em se plantando, tudo se dá" já dizia Pero Vaz de Caminha. Mesmo na mais rebelde terra, a lavradora cultiva-a nem que seja com os olhos do coração sedento de colheita para compor sua mesa e alimentar seus filhos; a terra não decepciona os filhos de Deus;retribui seus trabalhos, refletidos no suor, ao longo de um dia esperançoso; À noite, o orvalho dá sua pequenez contribuição e quem sabe, as nuvens , num choro torrencial, banharão as marcas da enxada, que solidariamente saciará as raízes ; e num amanhã abençoado, o verde se ostentará diante dos olhos daquela mulher guerreira, como a dizer no fundo da alma : Para todo bem que é feito , a resposta virá de Deus"(Chico Xavier).
Maria Luísa Castro Melo
"Em se plantando, tudo se dá" já dizia Pero Vaz de Caminha. Mesmo na mais rebelde terra, a lavradora cultiva-a nem que seja com os olhos do coração sedento de colheita para compor sua mesa e alimentar seus filhos; a terra não decepciona os filhos de Deus;retribui seus trabalhos, refletidos no suor, ao longo de um dia esperançoso; À noite, o orvalho dá sua pequenez contribuição e quem sabe, as nuvens , num choro torrencial, banharão as marcas da enxada, que solidariamente saciará as raízes ; e num amanhã abençoado, o verde se ostentará diante dos olhos daquela mulher guerreira, como a dizer no fundo da alma : Para todo bem que é feito , a resposta virá de Deus"(Chico Xavier).
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Wagner M. Martins Não há quem desagrade. Trabalhar no fabrico da farinha, desde a “panha” da mandioca, cuidar da ralagem, tirar o polvilho e secar. Levar ao forno para o processo da torração, sem perder a qualidade. O segredo é calibrar o fogo e manter o forno no ponto certo; no tempero; senão “queima” o filme da casa.
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Maria Luísa Castro Melo Quantas vidas...havia gente, cachorros, o galo cantando ao alvorescer, papagaio falante, galinhas botando em seus ninhos, pintinhos piando no terreiro,vacas dando o leite e berrando, o tilintar do fogo no fogão a lenha e o cheiro do café; onde estão?Ah! O tempo....
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Maria Luísa Castro Melo Não importa se é de jornal ou papel de seda colorido;pois o essencial mais profundo para a obra perfeita do corte da tesoura , é a singela felicidade expressa em cada detalhe que só no amor somos capazes de sentir e compreender através das bandeirolas.
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Wagner M. Martins Mais que a lembrança do samba, a solenidade do ato emergia como um gemido de lamento do grande tronco em chamas. Chegantes paravam e extasiados observavam o espetáculo ardente. Assuntavam o cheiro de batata assando, davam um ajeito no frio e se alinhavam. De requebro, expectantes comportados, ao pé da cruz, sorviam uma bebida forte. Seria longa, a noite de reza; muita lenha ainda!
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Laisa de Assis No dia em que D. Filinha endoideceu, desembestou a proferir imprecações ininteligíveis de que nem sua alma ousava desdenhar. Era um murmurar desdentado, um desvario em cusparada, testemunhado pelo baile dos urubus que contemplavam mais uma carcaça, no seu típico ritual preliminar. O feixe de lenha às costas fora ao chão, vitimado pela fúria afogueada, e logo um de seus galhos temerário tomado às enrugadas mãos. Às imprecações, juntou-se um rodopio desajeitado de artrose a desenhar, no chão batido, o recalque de uma vida miserável, até que os joelhos se dobraram derrubando o corpo carcomido naquele transe terminal. D. Filinha não sabia ler o que escrevia, mas os urubus entendiam daquele riscado: mais uma carcaça a solfejar.
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Aucione Rodrigues Um olhar na espreita, chama a atenção de quem passa pelo caminho.
Por entre os galhos secos está ela a espera de alguém, que venha salvá-la daquele pesadelo, sua jornada continua apesar do tardar da hora, seu corpo não suporta mais o árduo trabalho. A luta pela sobrevivência faz com que seu coração palpite o desejo do descanso.No silêncio da vida, põe-se a pensar em dias melhores. |
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Mandruvachá Entre Folhas
O feixe de lenha é pequeno, e o graveto é de gente De fato é gente, mas... É um tiquinho-de-gente Que nasce, Cresce e quer fazer como a gente. Difícil entender gente como a gente ... difícil mesmo é quando entendemos por gente. |
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Mandruvachá Entre Folhas Quis roubar a cena do árduo labor ofuscando a percepção do brilho saliente do óleo que jorrava untando a pele morena e ensopando o adorno do corpo. Livra-se do peso, mas da pisadura é impossível! Há marcas no joelho, mãos e cabeça; há marcas no corpo. Mas todas incomparáveis às enraizadas no coração – lembranças!!!
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Wagner M. Martins Foi um tempo de não se esquecer. A noite chegava depressa com seu negrume e mãe chamava pra dentro. A luz dos postes eram uns tomatinhos não clareavam nada não. Guardávamos aqueles brinquedos, rústicos com o maior carinho. Nada de luxo ou riqueza, eram feitos com latas de sardinha, barbantes, rodas de caco de cuia; mas caprichávamos na engenhosidade. Dormíamos rápido pra dar sequencia no dia seguinte. Depois da escola, que mãe não era besta!
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Mandruva Doidão Uma vorta nu tempo qui mi faiz deiscabelá de tanta sodade.
Só percisava de uma latinha de sardinha, uma chinela véia, uns preguim e uns pedacim de tauba. Pronto. Ganhava corqué currida qui minha imaginação pudesse criá. Muitas vêis chegava no final sem a tampa dos dedão do pé promode de qui condo era piquitito num tinha o custume de andá carçado. Era perciso muito poquim pra ser feliz. Êta sodade lascada sô!!!!!!!!!!!! |
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Adriane Ferreira Bicalho Goulart
Nas rodas do tempo vou deslizando pela vida afora. Vou levando a vida E ela me levando. |
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Mandruvachá Entre Folhas O filho do cabra não é cabrito mas é matreiro feito ele só; Vive arriscando, e petisca nas suas travessuras de garoto de pouca idade... Brinca com o perigo, faz proeza em cima daquela mecânica de fabricação artesanal, seu brinquedo preferido; Tornou-se afamado naquele tablado com direito a espectadores fascinantes que acompanhavam seu desempenho durante suas apresentações todos de olhos atentos, vidrados. Melhor, ali nunca apareceu nem igual, o equilíbrio invejável ficou como marca registrada; Na íngreme descida no topete -da cabeça -do morro montava e embalava, com os braços estendidos feito um pássaro indomável entrava na curva da reta final ao som do ranger das rodas como um baita campeão; Os rastos da freada que ficavam até hoje não se apagaram da mente.
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Aucione Rodrigues
Menino de rua, roda
Em cima de seu invento
Soltando suas mágoas
Num vai e vém contra o vento
Menino de rua quer mais
Saber qual seu destino
Mergulhado em seu mundo
Precisa mesmo é de carinho
Sem roteiro vai rodando
A procura de aventuras
Que lhe sirva de alimento
Para suas travessuras
O chapéu na cabeça, esconde
A dureza de sua vida
O vento no rosto desfaz
A amargura sofrida
Não tem ponto de chegada
Órfãos da PÁTRIA querida
Vivem a vida sem rumo
Desejando uma guarita
Tu és filho deste mundo
Sofre pedindo paz
No seu corpo de criança
Se esconde um homem capaz
Aucione Rodrigues
Menino de rua, roda
Em cima de seu invento
Soltando suas mágoas
Num vai e vém contra o vento
Menino de rua quer mais
Saber qual seu destino
Mergulhado em seu mundo
Precisa mesmo é de carinho
Sem roteiro vai rodando
A procura de aventuras
Que lhe sirva de alimento
Para suas travessuras
O chapéu na cabeça, esconde
A dureza de sua vida
O vento no rosto desfaz
A amargura sofrida
Não tem ponto de chegada
Órfãos da PÁTRIA querida
Vivem a vida sem rumo
Desejando uma guarita
Tu és filho deste mundo
Sofre pedindo paz
No seu corpo de criança
Se esconde um homem capaz
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Aucione Rodrigues
Minino é assim memo Num tem cor, tem coração Num tem sexo, tem braço pertado. (...)Tem cansaço não Só priguiça, tantim qui faiz Priguiça munta no lombo Pula, sarta quinem purdim novo. Futuro! Só Deus sabe! Tem jeito não.... Olha procê vê! |
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Aucione Rodrigues Sivirina incosta na porta, anssim de meia jota, ispia... num intende nada,
o contraste da cor, a luz do sol, ofusca os olhos, causa espanto...será ele? Vem vindo de lonje...andar molejante, só pode ser o cumpadi Izé; Olha procê vê! |
.........................................................................................................................................................................................................................................Maria Aparecida Furtunata Dona Sivirina entende sim moça e pensa assim: Não consigo entender essa gente que termina um casamento ou namoro de anos e engata outro na sequência. Sou do luto, das lágrimas, das lembranças... Só depois disso é que vem a volta por cima. E não de qualquer jeito... sempre com um lamento e uma dorzinha que teimam. Acredito que o amor é até que a morte os separe - mesmo contra as evidências de que querem me convencer.
Tem sempre aquele jeito de saudade... Enfim... eu preciso dos outros... confesso minha fragilidade... Sinto muito estar na contramão, mas não posso contrariar essa minha natureza... Talvez um dia eu aprenda... Talvez não... É que, ao risco de não me magoar se soma o risco de não mais sentir... Izé? Quem é?
Tem sempre aquele jeito de saudade... Enfim... eu preciso dos outros... confesso minha fragilidade... Sinto muito estar na contramão, mas não posso contrariar essa minha natureza... Talvez um dia eu aprenda... Talvez não... É que, ao risco de não me magoar se soma o risco de não mais sentir... Izé? Quem é?
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Aucione Rodrigues (...) De tocaia está Zezim, só na butuca.Espera ver em breve sua doce amada.É nesse momento que o coração não cabe em si, recosta na madeira cansado da labuta, mas esperançoso de um encontro.O olhar fito na curva da estrada... nem se mexe que é pra não peder nenhum movimento daquele corpo requebrando dentro do vestido de chita.
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Mandruvachá Entre Folhas ...passou a noite toda numa anarquia doida iscuitano caipira e ingerino a bicotadas goles da mardição engarrafada. No silêncio da madrugada foi visto sozinho dançando em rodinhas e cantarolando com uma garrafinha na mão, até que dormiu no cantinho da marquise... Com isso perdeu a primeira condução e a segunda não sabe se vem; A cabeçinha inchada atormentando lembra da musica, e da carvoaria que te espera. - Olha procê vê!!!
Mandruvachá Entre Folhas ...passou a noite toda numa anarquia doida iscuitano caipira e ingerino a bicotadas goles da mardição engarrafada. No silêncio da madrugada foi visto sozinho dançando em rodinhas e cantarolando com uma garrafinha na mão, até que dormiu no cantinho da marquise... Com isso perdeu a primeira condução e a segunda não sabe se vem; A cabeçinha inchada atormentando lembra da musica, e da carvoaria que te espera. - Olha procê vê!!!
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Aucione Rodrigues ...O zoim de Mariquinha, num disgrudava da rua. Se abancava por ali toda emperiquitada e num arredava pé, inquanto o magricela do Quinzim num passasse.
-O coió, vinha desimbestado em cima de uma magrela, malemá oiava prela, a coitada jururu entrava e inha chorá. |
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Mandruvachá Entre Folhas Acuada quis amoitar a cara e botar-fora aquela visita logo na chegada ao rancho;
Com geintin disacursuado e zuin regalado ficou alí mei-qui-acanhada com a cara no chão - essa é a fisionomia viva do povo sofrido e trabalhador do nosso sertão!!! |
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Mandruvachá Entre Folhas Sertanejo de encostas parece bicho-do-mato acuado tem vergonha até de falar, mas de amatutado ele só carrega o jeito, esperteza é o que não lhe farta - é bão no dedo e no-zói, no berganhar.
Numa trilha ou emboscada passa horas atrás dum tôco quietin, nem pito pãe nu beice esperando a caça passar. Cão na retaguarda chumbeira engatilhada, na ponta da estaca apoiada ai-ai... tocaia feita, à espera do bicho na mira do cano enquadrar. |
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Wagner M. Martins Corriam boatos de que era figura estranha, de gostos estranhos. Seu barracão estava localizado em lugar de acesso difícil na montanha. Alguns chegavam a afirmar que sua residência era uma loca na pedreira que dividia com animais selvagens, com os quais mantinha relacionamento estreito. Em noites de lua alta, costumava aparentar comportamento esquisito. Diziam ser pessoa de corpo fechado e que virava pedra, toco, ou desaparecia simplesmente diante do perigo.
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